H. Dobal

foto | Luciano Klaus

Hindemburgo Dobal Teixeira nasceu em Teresina, no dia 17 de outubro de 1927. Bacharel em Direito, funcionário público, residiu em Brasília, Londres e Berlim. Doutor honoris causa pela Universidade Federal do Piauí, UFPI. Faleceu em Teresina, em 22 de maio de 2008, aos 80 anos de idade.

Bibliografia

O tempo consequente (poesia, 1966)

O dia sem pressságios (poesia, 1970)

A viagem imperfeita (notas, 1973)

A província deserta (poesia, 1974)

A serra das confusões (poesia, 1978)

A cidade substituída (poesia, 1978)

Os signos e as siglas (poesia, 1986)

Um homem particular (contos, 1987)

Roteiro sentimental e pitoresco de Teresina (crônicas, 1992)

Ephemera (poesia, 1995)

Grandeza e glória nos letreiros de Teresina (crônicas, 1997, com Suzana Dobal)

A balada do ser e do tempo, Menezes y Morais

MORAIS, Menezes y. A balada do ser e do tempo. Teresina: edição do autor, 1987.

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SEÇÃO DE MEDOS
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teu rosto teus olhos de vidro me acabam feito um anjo rebelde
que tentamar o instante o eterno no momento zás em que tuas
mãos enormes roubam meu medo para um tempo
de azul
y morte
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II
antes que a boca grite,
pensou o ditador consigo…
.
III. central nuclear
entre o passado e o futuro
está tudo escuro:
ligaram os reatores.
– socorro!
.

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da vida
da morte
……….da morte
……….da vida

um in
…..separável
……….todo

homem
…..vida
……….morte

aqui
as melhores
ofertas do dia
aproveitem a nossa
liquidação de preços baixos
a morte quer nos levar além feitos cachorrinhos
a morte é carta marcada
no jogo da vida
a morte
não tem pressa
a morte espera que todos vivam

II
nesse passar de segundos
homemorte
……….sempre juntos
dão-se as mãos

III
com suas manhãs tardes e anoitecer
a vida é teorema:
……………nesse passar de minutos
……………nos descortina a morte

criminosa sem perdão

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A título de curiosidade

a balada do ser e do tempo foi produzida entre os anos de 1966 e 86, sem a preocupação com a organicidade do tema. o poeta escreve sempre o mesmo poema. o grosso dos trabalhos pintou nos últimos 12 anos, e a escolha do título me foi muito difícil. queira chamá-lo temposer, mas me “grilava” o fato de martim heiddeger – 1889-1976 – ter escrito ser e tempo. jean-paul sartre – 1905-1980 – escreveu o ser e o nada. aí, o “grilo” já não me incomodava tanto. honoré de balsac – 1799-1850 – escreveu os pequenos burgueses, e máximo gorki – 1869-1936 – pequenos burgueses. então matutei: se eles podem escolher títulos que se assemelham e até se copiam – no caso de balsac e gorki – por que não essa humilde balada, que não tem nada a ver com o peixe? mas a exclusão de temposer só foi decidida em 1984, quando o país inteiro viu a firmeza daquela imensa massa humana nas ruas clamando por diretas já! o sentido do tempo, o sentido no tempo, temposentido. temposer: o individual forma o coletivo. o ser flue no tempo e para o tempo e o tempo é a substância do ser, na razão direta do infinito. e nas águas dialéticas do rio, pescar o tempo, gestar a existência. dito isto, chega de prosa: vire a página e até sempre.

m.m
brasília agosto 86
teresina março 87

p

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Aos ossos do ofício o ócio, de Francisco Gomes

GOMES, Cleyson. Aos ossos do ofício o ócio. Guaratinguetá, SP: Penalux, 2014.
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O CASARÃO
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A sala vazia…
Só as imagens diáfanas
repousando na poeira dos quadros
A entreluz estacionada
(no vão)
O chão repleto de jornais
(o prenúncio de escombros)
Vez por outra
o movimento de lembranças
: pessoas cruzando o cômodo
O silêncio instigante no espaço
anuncia a demolição
num futuro
                     [mais-que-perfeito.
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CEDO NO QUINTAL, MEU PAI
ALIMENTANDO AS GALINHAS
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O hábito que se cria
ao habituar a cria
          (…)
O circular quotidiano
do engano instintivo
          (…)
Os grãos em fechada mão
expandidos ao ar ao chão
: instantaneamente
o um-por-um enche os papos
e os galináceos
retornam ao rumo
da sobre-vivência
             [do paraíso
                                 ao con-
                                              sumo.

p

Cleyson Gomes (Francisco Gomes) nasceu em Campo Maior, PI, 1982. Poeta, músico, letrista, compositor. Autodidata e autodidático. Iniciou as faculdades de História e Letras/Português, abandonando ambas. Autor do livro Poemas cuaze sobre poezias (2011, primeiro lugar no Concurso Literário Novos Autores, Teresina, edição de 2008). Edita o blog www.saladapoeticalia.blogspot.com.br. (Sobre)vive em Teresina, PI, desde os 7 anos de idade. Admira a carência orgulhosa dos gatos e a tranquilidade dos jabutis.  

Poesia de quinta, Climério Ferreira

FERREIRA, Climério. Poesia de quinta. Teresina: Nova Aliança, 2017.

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O DESLIVRO

restam restos de palavras
letras soltas na palidez das páginas
sumários, índices, prefácios aflitos
e uma enorme falta de sentido

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QUESTÃO DE PREFERÊNCIA

não faça discurso
não faça sermão
prefira um novo percurso
e uma velha canção

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p

Climério Ferreira é poeta e letrista. Nasceu em Angical do Piauí. É professor aposentado da Faculdade de Comunicação da Universidade de Brasília, onde reside.