Mais que imperfeito, Fred Maia

MAIA, Fred. Mais que imperfeito. Porto Alegre: Ameop, 2004.

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CIDADE

um sobrado
assombra a Consolação
emparelhado
o cemitério dorme
seus mortos sossegado
o sobrado
é morto vivo
no passado
a luz no andar de cima
olho ensimesmado
que os olhos dos que estão
aqui desse lado
fecham-se acordados

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pequeno jarro
só um traço desenhado
broto de bambu

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sol inclinado
o aquário vazio prisma
peixes imaginários

p

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Fred Maia é piauiense de Oeiras. Poeta, educador social e jornalista. Publicou Um rock por nada (Arte Pau Brasil/SP); eupor (Nômades/SP); Plínio Marcos – A crônica dos que não têm voz (Boitempo/SP – Ensaio biográfico, com parceria de Vinicius Pinheiro e Javier Contreras).

Baião de todos

Baião de todos. Teresina: Corisco, 1996.

Coletânea reunindo poemas de Alberto Araújo, Alcenor Candeira, Barros Pinho, Caio Negreiros, Carmem Gonzales, Carvalho Neto, Chico Castro, Cid Teixeira, Cineas Santos, Climério Ferreira, Diogo Fontenelle, Elias Paz e Silva, Elio Ferreira, Elmar Carvalho, Emerson Araújo, Fátima Mendes, Fernando Basto, Flávio Sousa, Francisco Miguel de Moura, Fred Maia, Glauco Luz, Graça Vilhena, Halan Kardeck, Hardi Filho, H. Dobal, Jamerson Lemos, Kenard Kruel, Lourismar, Marleide Lins, Menezes y Morais, Nelson Nunes, Paulo José Cunha, Paulo Machado, Ral, Ramsés Ramos, Rogério Newton, Rubervam Du Nascimento, Salgado Maranhão, Valadares, Victor Virgilius, William Melo Soares

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NO TROPEL DO CARROSSEL
[Diogo Fontenelle]

Os cavalinhos do carrossel,
Presos por fios de ouro,
Descem ao mar e sobem ao céu
Carregando os meninos louros
Vestidos de helenos
E os meninos morenos
Vestidos de mouros.

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[Fred Maia]

Se você
tivesse acreditado
na minha brincadeira
de dizer verdades
teria ouvido
verdades que teimo
em dizer brincando
falei muitas vezes
como o palhaço
mas nunca desacreditei
da seriedade
da plateia que sorria

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O MURO
[Hardi Filho]

A vida pinta no muro o vermelho
perigo a todo instante dia a dia
e pinta o verde, em céu azul, nuns ricos
bordados de pureza e fantasia.

Drama aventura evento a vida pinta
no muro o preto o amarelo o lilás;
refração de água e sol ela reflete
esta coisa indecisa entre ânsia e paz:

arco, armação, parábola, temores.

A morte pinta no muro outras cores.