Poesia reunida, Graça Vilhena

VILHENA, Graça. Poesia reunida. Teresina: Quimera, 2018.

– Volume reunindo Em todo canto (1997) e Pedra de cantaria (2013)
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TUA

São minhas essas margens
ombros do rio em que choras
guardando teus peixes
e aflição em correnteza.

É minha a chama
que faz arder a tua imagem fina
e empluma o teu voo.

É teu esse amor que arquiteta
e compõe a nuvem em que pousas
para secar a saliva dos teus vícios.

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COISAS SIMPLES

também tive amor sem cura
que enterrei agasalhado
na bainha de um punhal

hoje quero coisas simples
sem seiva como os gravetos
que o vento não mais assusta
e se quebram sem doer

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Maria das Graças Pinheiro Gonçalves Vilhena nasceu em Teresina, em 10-02-1949. É poetisa e contista, participante da Geração Mimeógrafo ou Geração 70. Formada em Letras, pela Universidade Federal do Piauí e tem especialização em Língua Portuguesa, pela PUC-SP. Leciona Literatura e Redação, no Instituto Dom Barreto. Autora de: Passo a pássaro (poesia, 1997, com William Melo Soares); Em todo canto (poesia, 1997); O jornaleiro de gesso (contos, 2002); Pedra de cantaria (poesia, 2013).

Ô de casa!

SANTOS, Cineas (org). Ô de casa! Teresina: Editora Nossa, 1977.

Coletânea de contos, incluindo Dodô Macedo, João de Lima, João Carneiro, Paulo Machado, Cineas Santos, Magalhães da Costa, Geraldo Borges, Durvalino Couto, Arnaldo Albuquerque, João Luiz, Pedro Guerra, Will Prado, Menezes y Morais, Francisco Miguel de Moura, J. Carlos de Santana Cruz, Assaí Campelo e Rubervam Du Nascimento.

Capa: foto de de Fernando Campos e arte-final de Fábio Torres

Impressão: Comepi

Mais que imperfeito, Fred Maia

MAIA, Fred. Mais que imperfeito. Porto Alegre: Ameop, 2004.

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CIDADE

um sobrado
assombra a Consolação
emparelhado
o cemitério dorme
seus mortos sossegado
o sobrado
é morto vivo
no passado
a luz no andar de cima
olho ensimesmado
que os olhos dos que estão
aqui desse lado
fecham-se acordados

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pequeno jarro
só um traço desenhado
broto de bambu

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sol inclinado
o aquário vazio prisma
peixes imaginários

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Fred Maia é piauiense de Oeiras. Poeta, educador social e jornalista. Publicou Um rock por nada (Arte Pau Brasil/SP); eupor (Nômades/SP); Plínio Marcos – A crônica dos que não têm voz (Boitempo/SP – Ensaio biográfico, com parceria de Vinicius Pinheiro e Javier Contreras).

Mátria, Laís Romero

ROMERO, Laís. Mátria. São Paulo: Paraquedas, 2023.

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MÁTRIA

Meu corpo encontrou um ritmo
meu corpo abrigo
país dos meus filhos
meu corpo ferido frio
corpo dormindo
capataz dos meus delírios
corpo vasto território
corpo de corte e tintura
mapa em relevo da dor
meu corpo sereno
corpo, pelos e suor
meu corpo diz e asseguro
estar a caminho
no presente
e nos medos multiplicação

Meu corpo aberto e preciso
Coragem, eu insisto

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ESTUDO Nº 7

Dos teus olhos de âmbar
escapa a minha dança
e sobram outros segredos

Duros aspectos do medo
sinto meu pulso revidar
um ritmo atravessado em garganta e
ainda em dança em dança
no âmbar de nossos anseios

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Laís Romero nasceu em Teresina, PI, em 1986. Mestra em Letras pela UESPI e especialista em escrita e criação pela Unifor. Atualmente, trabalha como revisora e editora. Mátria é sua primeira publicação solo.

 

 

Refeição do tempo, Caio Negreiros

NEGREIROS, Caio. Refeição do tempo. Teresina: Avant Garde, 2021.

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maresia
não desfez os nós
restou o mar

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SÃO BENEDITO

Na melhor fatia dos anos 80, jovens se aglomeravam no adro da São Benedito, até o som estridente da sirene do colégio Cursão avisar o início das aulas.

O tempo insidioso não ousava deixar marcas. O tempo infinito dos cartazes curiosos do Rex; ou da efemeridade de uma ficha de fliperama do velho Clube dos Diários.

Mas ninguém se iluda com este senhor e suas cascas. Não há reforma que apague o açoite, ainda que em silêncio e invisível.

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Caio Negreiros é ex-atleta aposentado compulsoriamente. Estuda música com sucesso duvidoso. Poeta e Procurador do Município de Teresina. É autor dos livros: A decadência das horas, Portal do Hades e Sobras do dia (Edições Não-Ser).