As medicinas, Sebastião Edson Macedo

MACEDO, Sebastião Edson. As medicinas. Rio de Janeiro: Oficina Raquel, 2010.

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UMA ABÓBADA IMPORTANTE

para quem tinha enormes montanhas postas em movimento
e zelava os contrafortes do amor
é estranho que abrevie na boca a imensidão do tempo
esse tempo roxo sem tamanho algum

porque já habitam árvores de páginas muito incertas
as difusas velocidades da dor
e é provável que vocês nunca mais façam os olhos
desses olhos queridos ao longo do céu

para quem tinha acabado de perceber o atrevimento da morte
hora de atrelar um carro ao boi

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DOIS ACASOS TRÊS

esperei muitas folhas caírem pela tua aparição em meu correio
diminuí os olhos risquei ofertas de quarto e sala e foram ruas
com pessoas de toda sorte desaparecendo em teu nome tão pequeno

não sou capaz de precisar o que escapou das iscas na minha sede
nem mesmo o meu cabelo cortado ou não e a alameda esta tarde
que tomei sem acaso para evitar o desconto dos teus compromissos
posto como uma vida real entre outras vidas num recomeço decerto

sei que fica repleta a hipótese da alegria remota a próxima estação

por isso persiste diante de mim a árvore de tua serena mensagem
simples como conviria a uma última caminhada junto até a condução

p

Sebastião Edson Macedo nasceu em Floriano, interior do Piauí, em 1974. Publicou Para apascentar o tamanho do mundo (Oficina Raquel, 2006) e Cego puro(UFRJ/FL, 2004).