Bifurcações, Demetrios Galvão

GALVÃO, Demetrios. Bifurcações. São Paulo: Patuá, 2014.

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HERDEIROS

hão de florescer herdeiros

.             gestados em um compartimento manso

em águas de balanço leve

dentro de nós

.             o desenho que fazemos já tem nome

é uma derivação da palavra amor.

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BIFURCAÇÕES

ao som de the doors

os animais do inverno hoje são luas.
rubens zárate

bifurcar-se é inventar
um outro, outros…
figuras derivadas de uma cosmologia sem vértebras:
.                                    .caçada com lança e espinhos
.                                    .pescaria em céu domesticado.

.                .a escritura diz:

.                .desvendar o alimento que as águas oferecem
.                .dominar o feitiço que existe no útero da lâmina.

estranha fibra que brota das rochas e se irmana nos tendões
luz da manhã amadurecida no pulmão-estufa
experiência selvagem de animal paterno.

bifurcar-se é multiplicar imagem no espelho opaco
exercício em águas inéditas
digestão de raízes lancinantes:
.                                    .o olhar semiárido vislumbrou uma nova especiaria
.                                    .fármaco e veneno extraídos da febre de árvores púrpuras.

.                .a voz aconselha:

.                .arremesse as sementes da fé no leito orbital
.                .no planeta maior mesopotâmico
.                .na imensidão garganta da serpente luminosa.

o céu fecundo reproduz pássaros límpidos
o diafragma revela-se uma península de algaravias
estruturas semânticas cavalgam os pontos cardeais:
.                                    .o verbo-candelabro cega quando pronunciado no escuro.

bifurcar-se é contorcer os ossos
duplicar as artérias no inconfessável
estender a musculatura na dobra sonante
equilibrar-se em movimentos de rotação e translação.

.                .a experiência ensina:

.                .o viveiro de moinhos potencializa o corpo oblíquo
.                .o sangue caudaloso transborda o contorno original
.                .e inunda o outro, no milagre da enchente,
.                .na abundância mar da imaginação líquida.

útero incandescente banhado em larvas
a ternura amolece os pés:
.                                    .continente que improvisa um arquipélago
.                                    .na dispersão do zênite que se desfaz.

bifurcar-se é quando um filho inventa um pai.

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Demetrios Galvão – habitante da província de Teresina (PI) – é historiador e poeta. Publicou os livros Cavalo de troia (2001),Fractais semióticos (2005), Insólito (2011) e o CD Um pandemônio léxico no arquipélago parabólico (2005). Participou do coletivo poético Academia Onírica e foi um dos editores do blog poesia tarja preta (2010-2012) e da AO Revista (2011-2012), além de ter participado do CD Veículo q.s.p. – quantidade suficiente para (2010). Atualmente é um dos editores da revista Acrobata.