Entrevista com Rogério Newton concedida a Adriano Lobão Aragão, em janeiro de 2012 e publicada originalmente na coluna Toda Palavra, jornal Diário do Povo
O cronista e poeta Rogério Newton, nascido em Oeiras e radicado em Teresina, autor de Ruínas da Memória (crônicas, 1994), Pescadores da Tribo (crônicas, 2001), Último Round (poesia, 2004) e Conversa escrita n’Água (crônicas, 2006), lançou recentemente Grão, seu novo livro de crônicas. A crônica puxou a conversa e a conversa segue adiante.
Por que Grão?
Fiz como nos livros anteriores: peguei uma das crônicas e dei título ao livro. Aprendi isso com os contistas da década de 70. Grão é um nome curtinho, sugestivo, tem um quê minimalista. Isso me agrada, pois ajuda a tornar o texto enxuto. E se a palavra é curta e polissêmica, melhor ainda. Na verdade, é uma microcrônica. Levá-la para o título do livro é uma forma de me render à concisão.
Quase todos os textos do livro são voltados para o cotidiano, para uma realidade imediata. Entretanto, o texto Grão é justamente o que mais difere dos outros, seja por sua extensão mais reduzida, por sua temática e até mesmo o estilo, que se aproxima bastante do conto minimalista contemporâneo. Como você avalia esse aspecto?
Você tem razão ao aproximá-la do conto minimalista, e acho que isso atesta uma das possibilidades do gênero, que nem sempre fica adstrito ao que comumente se entende por crônica. Agora, a temática não deixa de ser ecológica (e nesse ponto essa crônica não difere de outras do livro), só que de uma perspectiva cósmica, isto é, a Terra vista do espaço, pequenina como um grão de milho. Acho que você captou bem o espírito da coisa: o vínculo direto que a crônica tem com o cotidiano não deve ser uma fronteira intransponível. Mas aí podemos indagar: qual o significado de “cotidiano”? É somente o circunstancial? A Terra completa seu giro todos os dias, dentro do oceano cósmico. Isso não é um fato cotidiano?
Como está sendo a repercussão do livro?
A melhor repercussão que o livro poderia ter seria sua venda em livrarias e sua recepção pelo leitor e pela crítica. Que eu saiba, só há um livreiro em Teresina que tem apreço pelo autor local: é o Leonardo Dias. Por isso, só deixei o livro na livraria dele. Entreguei também alguns exemplares ao Espaço Cultural São Francisco, no Mafuá, onde fiz um dos lançamentos. Mas confesso: não sei como distribuí-lo. Bom seria se tivéssemos um profissional que pudesse fazer esse trabalho. Como não conheço nenhum, uso o tradicional sistema amador, levando a obra aos lugares aonde vou. Gosto muito do contato direto com o leitor, de conversar com ele, saber o que ele pensa. Tenho recebido manifestações de pessoas que já me conhecem como cronista. Alguns escritores e leitores sinceros gostam do que escrevo e fazem questão de dizer para mim. Isso me alimenta. O feedback é vital para o escritor.
Como você avalia o atual panorama literário praticado no Piauí?
Alguns pontos de partida podem ser úteis para essa avaliação: o que se produz literariamente aqui? Como o escritor e o livro são recepcionados pela sociedade? Que instrumentos o Estado e a sociedade possuem para favorecer a criação literária, a editoração de livros e o acesso à cultura? Há o exercício de uma crítica militante? Falo de Teresina, pois desconheço a realidade nas outras cidades. Não sei exatamente quantos livros e revistas foram publicados em 2011, mas talvez tenham sido suficientes para não haver uma estagnação, como a do teatro, que vive uma situação preocupante. Duas editoras, a Nova Aliança e a Renoir, têm publicado – poucos títulos, é verdade -, mas o fato de existirem simultaneamente é algo inédito em Teresina. Acho positiva a ocorrência periódica do Salão do Livro, com todas as carências que possa ter. O surgimento da revista da Academia Onírica é um sopro de vitalidade. A continuidade da Desenredos é também um exemplo de vitalidade e rigor, que considero indispensáveis. O fato de Assis Brasil estar residindo entre nós, participando ativamente da vida literária, é um alento auspicioso. Além de grande escritor, é um exemplo de longevidade criativa que todos nós devemos celebrar. Em relação à participação do Estado, considero-a praticamente nula, e nesse ponto acho que há um retrocesso que já dura uma ou duas décadas. Tenho muita vontade de saber como se dá o ensino de literatura nas escolas, as abordagens usadas e principalmente as consequências desse ensino. Sobre uma crítica militante, acho que nunca a tivemos. Suplementos literários de jornais poderiam ser veículos para expressão da crítica especializada, mas não os há entre nós. O crítico também deveria ser um profissional remunerado para exercer seu trabalho.
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