SILVA, Valéria. Sensores. Teresina, Área de Criação: 2025.
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NOTÍVAGA
Um toque profano triunfa em meu coração
Carrega-me pelas noites embriagadas
Dos becos desabitados
Das casas em penumbra
Entrego-me.
Os copos cheios e os goles ávidos
Arrastam a dor pela minha garganta.
Escorrendo pelo meu peito
Arranca o senso
Apaga o amanhã e a memória de mim mesma.
Corpos feitos dóceis
Camas fáceis
Histórias amargas…
A correnteza dos meus olhos
Banha meu corpo quase vivo.
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DÁ LICENÇA?
Não me peçam paciência
Carrego a pressa do pouco tempo a fruir.
Não me peçam insurgência
Faço-me de antigos hábitos a me perseguir.
Não me peçam urgência
Aprendo associada ao tempo a advir.
Não me peçam potência
Minha fraqueza me mostra a hora de desistir.
Não me peçam indulgência
Escolho os espíritos torpes obstruir.
Não me peçam prudência
Vivo sem medo o agora e o devir.
Não me peçam reticências
Só pude ser assertiva e viver sem fingir.
Não me peçam desistência
Aprendo na luta quão decisivo é insistir.
Não me peçam permanência
Morro a cada instante no caminho a descobrir.
Não me peçam coerência
Estou fadada ao erro, após cada acerto atingir.
Não me peçam excelência
Sigo incompleta, fazendo-me no existir.
Não me peçam!
Não me peçam…
Vivam, se puderem
E me deixem viver.
Contraditoriamente…
Humanamente…
E isso é tudo.