haikais e quase-canções
O Piauí é o estado brasileiro com o maior percentual de casas com gatos. Segundo o IBGE, são 32,6% das residências abrigando, pelo menos, um chanin. Basta dar uma volta em Teresina. Eles estão em todo lugar.

A partir de sua convivência com os bichanos, o poeta e músico Thiago E escreveu o livro “Os gatos quando os dias passam” (7Letras). Além de poemas, a publicação também traz várias fotografias dos felinos feitas pelo autor. A exposição FOTÓGATO: haikais e quase-canções apresenta boa parte desse processo. Os textos expostos buscam fazer um diálogo com a felinidade dos gatos. São poemas curtos ou ataques? O poema é uma espécie de canto? O poema longo é como o sono? É uma sintaxe quebrada ou a imprevisibilidade do sonho? A exibição também conta com textos do livro “Cabeça de sol em cima do trem [remix]”, marcado pela variedade como apresenta as possibilidades do poema, explorando a música da língua.

Originalmente, a palavra haikai tinha o sentido de “cômico”. O ideograma hai (俳) significa “bufonaria”, “pantomima”. E também está na palavra haiyū, que significa “ator”, em japonês. Sabe quando a gente se surpreende e diz “engraçado…”, mesmo sem vontade de rir? O haikai também mantém esse sentido. É um poema feito com poucas palavras e costuma quebrar nossa expectativa. Sua forma foi consolidada no Japão de séculos atrás, uma cultura muito diferente da nossa. Logo, pode causar certo estranhamento ao que costumamos chamar de poesia. Porém, que tal tentar entender o estranhamento?

O haikai ensina novas maneiras de percepção de si, do mundo. Escrito com vocabulário simples, tem duas partes em justaposição que se complementam indiretamente. É uma forma de meditação com a passagem das estações, uma disciplina com a permanente impermanência, um caminho para “apenas estar desperto”, evidenciando seu substrato budista, pois leva quem escreve a se integrar com as mínimas formas de vida ao redor.