Fotógato

 haikais e quase-canções

O Piauí é o estado brasileiro com o maior percentual de casas com gatos. Segundo o IBGE, são 32,6% das residências abrigando, pelo menos, um chanin. Basta dar uma volta em Teresina. Eles estão em todo lugar.

Thiago E. Fotos: Adriano Lobão Aragão

A partir de sua convivência com os bichanos, o poeta e músico Thiago E escreveu o livro “Os gatos quando os dias passam” (7Letras). Além de poemas, a publicação também traz várias fotografias dos felinos feitas pelo autor. A exposição FOTÓGATO: haikais e quase-canções apresenta boa parte desse processo. Os textos expostos buscam fazer um diálogo com a felinidade dos gatos. São poemas curtos ou ataques? O poema é uma espécie de canto? O poema longo é como o sono? É uma sintaxe quebrada ou a imprevisibilidade do sonho? A exibição também conta com textos do livro “Cabeça de sol em cima do trem [remix]”, marcado pela variedade como apresenta as possibilidades do poema, explorando a música da língua. 

Thiago E e Douglas Machado

Originalmente, a palavra haikai tinha o sentido de “cômico”. O ideograma hai (俳) significa “bufonaria”, “pantomima”. E também está na palavra haiyū, que significa “ator”, em japonês. Sabe quando a gente se surpreende e diz “engraçado…”, mesmo sem vontade de rir? O haikai também mantém esse sentido. É um poema feito com poucas palavras e costuma quebrar nossa expectativa. Sua forma foi consolidada no Japão de séculos atrás, uma cultura muito diferente da nossa. Logo, pode causar certo estranhamento ao que costumamos chamar de poesia. Porém, que tal tentar entender o estranhamento?

Thiago E e Douglas Machado

O haikai ensina novas maneiras de percepção de si, do mundo. Escrito com vocabulário simples, tem duas partes em justaposição que se complementam indiretamente. É uma forma de meditação com a passagem das estações, uma disciplina com a permanente impermanência, um caminho para “apenas estar desperto”, evidenciando seu substrato budista, pois leva quem escreve a se integrar com as mínimas formas de vida ao redor.

 

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Sensores, Valéria Silva

SILVA, Valéria. Sensores. Teresina, Área de Criação: 2025.

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NOTÍVAGA

Um toque profano triunfa em meu coração
Carrega-me pelas noites embriagadas
Dos becos desabitados
Das casas em penumbra
Entrego-me.
Os copos cheios e os goles ávidos
Arrastam a dor pela minha garganta.
Escorrendo pelo meu peito
Arranca o senso
Apaga o amanhã e a memória de mim mesma.
Corpos feitos dóceis
Camas fáceis
Histórias amargas…
A correnteza dos meus olhos
Banha meu corpo quase vivo.

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DÁ LICENÇA?

Não me peçam paciência
Carrego a pressa do pouco tempo a fruir.

Não me peçam insurgência
Faço-me de antigos hábitos a me perseguir.

Não me peçam urgência
Aprendo associada ao tempo a advir.

Não me peçam potência
Minha fraqueza me mostra a hora de desistir.

Não me peçam indulgência
Escolho os espíritos torpes obstruir.

Não me peçam prudência
Vivo sem medo o agora e o devir.

Não me peçam reticências
Só pude ser assertiva e viver sem fingir.

Não me peçam desistência
Aprendo na luta quão decisivo é insistir.

Não me peçam permanência
Morro a cada instante no caminho a descobrir.

Não me peçam coerência
Estou fadada ao erro, após cada acerto atingir.

Não me peçam excelência
Sigo incompleta, fazendo-me no existir.

Não me peçam!
Não me peçam…
Vivam, se puderem
E me deixem viver.
Contraditoriamente…
Humanamente…
E isso é tudo.

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De dentro de mim partiu a última caravela, Rubervam Du Nascimento

DU NASCIMENTO, Rubervam. De dentro de mim partiu a última caravela. Leiria, Portugal: Arquivo Bens Culturais, 2021.

Poemas | Prêmio de Poesia Francisco Rodrigues Lobo

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Provoco noite a errar caminho de volta do exílio da voz
você nunca foi deportado para um país que não existia mais
Acho graça nas pétalas transformadas em buquê de lama
nas ovas em ilusão de bolas de gude na trilha de crustáceos
na dobra da blusa a esconder abelha do beijo mortal da flor
Esmago odor do charuto do mangue a embriagar meu chão
uso cheiro do capim do braço para esfregar frio do nariz
Convenço mimosa a fechar-se ao toque do insulto do dedo
arranco pela raiz erva daninha a sugar água da minha areia
Transporto correr de hora no fundo de palha do meu patuá
colho por onde passo cacos da manhã pisada pelo escuro
Última caravela partiu de dentro de mim carregada de fogo
para irrigar osso no campo de plantio do dia do meu amado
e do sol

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Não adianta cativo da desforra da borduna
fazer pose de senhor do céu do mar da terra
negar à zoada do terreiro naco de seu miolo
declarar-se fundador de escola de mágico
Não adianta querer substituir azedo da fome
no ponto de engolir fatia de ponte de melão
por semente de nuvem caída do tamarisco
Não adianta fingir transportar seu fantasma
exigir pressa à alma a vagar pelo oceano seco
em procissão de exílio ao horizonte de lona
Seu espírito será vomitado por não se permitir
ser derramado em lugar da voz da manhã
da garganta do pântano do meu amado
e do sol

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Rubervam Du Nascimento é de São Luís do Maranhão, nordeste do Brasil. Viveu 46 anos em Teresina, capital do Estado do Piauí. Reside actualmente em Santo André, na Grande São Paulo. Formação acadêmica em Ciências Jurídicas e Sociais. Integrou a Coordenadoria de literatura da revista “Pulsar”, editada no Piauí, na ‘década de 80’. Participa de Feiras de Livros, Festivais Literários, com a Leitura Poética: O Prazer da Língua, iniciada em Maputo/Moçambique, em 2011, levada a vários estados brasileiros e a diversos países. Livros de poemas editados: A Profissão dos Peixes (2ª edição, revista e diminuída – Editora Códice/DF/Brasil, 1993); Marco Lusbel Desce ao Inferno (Editora Blocos/RJ/Brasil, 1997); Às Vezes, Criança – Um Quase-Retrato de Uma Infância Roubada, com fotografias de Sérgio Carvalho (Tribunal Regional do Trabalho, TRT-7 /Fortaleza/CE/Brasil, 2012); Os Cavalos de Dom Ruffato (Recife-PE/Brasil, 2004); Espólio (Scortecci Editora/SP/Brasil, 2007) e Dandaras (plaquete com 22 poemas, impressa manualmente em Buenos Aires/Argentina – Sangre Editorial/Caravana – coleção 32 – MG/Brasil, 2019)

23º SALIPI

O Salão do Livro do Piauí – SaLiPi, realizado anualmente desde 2003, é o principal evento da Fundação Quixote e integra o circuito cultural das principais Feiras e Bienais de Livros do Brasil.

Com duração de 10 (dez) dias o SaLiPi movimenta a cena literária e cultural do Piauí, aquece o mercado livreiro e atrai um público superior a 200 mil pessoas interessadas em tudo o que ele oferece.

Mais que uma feira de livros e um ponto de encontro entre escritores e leitores, o SaLiPi se desdobra em inúmeras atividades que o tornam maior e mais pujante a cada nova edição. 

O Salão do Livro do Piauí – SaLiPi é formado por uma série de eventos e atividades que convidam o visitante para uma rica imersão em um universo de infinitas possibilidades. São atividades e espaços que integram o SaLiPi: Feira de Livros; Bate-Papo Literário; Seminário Língua Viva; Estação Letras e Expressões; Espaço Criança Liz Medeiros; Palco de Música Marcus Peixoto; Palco de Dança Hely Batista; Praça e Café Escritor Assis Brasil; Galeria Afrânio Castelo Branco; Concurso Jovens Escritores; Curso de Escrita Literária; Espaço Conexão SaLiPi; Canal SaLiPi; Arena Salipinho; Arena Cordel; Imersão Enem; Praça de Alimentação e áreas para oficinas e performances.

23º SALIPI – Salão do Livro do Piauí

De 6 a 15 de junho de 2025, Espaço Rosa dos Ventos, UFPI, Teresina, Piauí

Autora homenageada: Sueli Rodrigues

A professora Maria Sueli Rodrigues de Sousa, advogada e docente da Universidade Federal do Piauí, foi escolhida como patrona da 23ª edição do SALIPI, que acontecerá em junho de 2025. Militante histórica dos movimentos sociais, feminista negra e defensora dos direitos humanos, Sueli integrou programas de pós-graduação em Sociologia e Gestão Pública, além de grupos de pesquisa em africanidades e cidadania. Faleceu em 26 de julho de 2022, deixando legado acadêmico e ativista que agora inspirará as atividades do evento.

Solenidade de abertura do abertura do 23º Salipi. Foto: Jonathan Dourado
Kássio Gomes, presidente da Fundação Quixote. Foto: Jonathan Dourado
Solenidade de abrtura do 23º Salipi. Foto: Jonathan Dourado
Solenidade de abrtura do 23º Salipi. Foto: Jonathan Dourado
Solenidade de abertura do 23º Salipi. Foto: Jonathan Dourado
Nadir Nogueira, reitora da UFPI. Solenidade de abertura do 23º Salipi. Foto: Jonathan Dourado
Fabrício Carpinejar
Fabrício Carpinejar
Cineas Santos, Salgado Maranhão, Edilva Barbosa, Luiz Romero Lima, Jasmine Malta, Nadir Nogueira, Kássio Gomes, Lanna Almeida, Samya Almeida, Biá Boakari, Adriano Lobão Aragão e Marco Antônio. Foto: Jonathan Dourado
Jorge Vercilo durante o show de encerramento do 23º Salipi. Foto: Jonathan Dourado
Show de encerramento do 23º Salipi. Foto: Jonathan Dourado
Show de Jorge Vercilo. Foto: Jonathan Dourado
Jorge Vercilo e banda. Foto: Jonathan Dourado

A paixão é uma emergência, Clara Mello

Mello, Clara. A paixão é uma emergência. Rio de Janeiro: Telha, 2024.

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CANTO DA SEREIA

Entre coxas conchas
Ouço o barulho do mar
Amor afoga e transborda
Naufraga meu barco
E me entrega a boia.
Me conta lendas,
Me tira a memória
O amor é aquático
E tem que molhar.
Diz o ditado das ondas
Água mole em carne dura
Bate até a sereia cantar.

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SIMPATIA DE DESAMOR

Hoje quase fiz uma macumba pra me desapaixonar por você
Uma oração pra São Cipriano de desamarração
A benção da Pomba Gira para despacho do tesão
Ainda faço a tal simpatia de desamor
As cartas confirmaram e a cigana reforçou
Que é poderosa e me traz o bem amado
Em até três dias, totalmente superado
Deixa o tambor tocar, o samba voltar
Parar de chover
Deixa o sol raiar, eu achar um par
Dançar pra valer
Eu já tô quase livre, você vai ver

Tem quase quinze minutos que eu não penso em você.

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Clara Mello nasceu no Piauí, mas mora no Rio de Janeiro com seus gatos Dante e Pinga. É formada em Letras pela UFRJ. Escritora, roteirista, dramaturga e astróloga. A paixão é uma emergência é seu quinto livro, o segundo de poesia.

Poemas reunidos

Climério Ferreira / foto: Adriano Lobão Aragão

Lançamento do livro Poemas reunidos, de Climério Ferreira, editado pela Fundação Quixote, ocorrido no dia 29 de janeiro de 2025, na Livraria Anchieta, Teresina.

Climério e conterrâneos de Angical, Piauí / foto: Adriano Lobão Aragão

Kássio Gomes, Climério, Luiz Romero e Adriano Lobão Aragão

Sessão de fotos e autógrafos / foto: Adriano Lobão Aragão

Climério, Luiz Romero, André Gonçalves e Samária Andrade / foto: Adriano Lobão Aragão

Adriano Lobão Aragão, Climério, Geraldo Brito e Vagner Ribeiro / foto: Kássio Gomes

Exames Aleatórios de Imagem e O Dia Escuro

Laís Romero

Bate-papo sobre os livros Exames Aletórios de Imagem (poemas) e O Dia Escuro (contos), com Laís Romero, ocorrido no dia 30 de janeiro de 2025, na Livraria Entrelivros, Teresina. Fotos: Adriano Lobão Aragão.

Eulália Teixeira e Laís Romero

Eulália Teixeira e Laís Romero

Júlio, Laís Romero, Lara Matos, Consa, Dani Marques, Fernanda Paz, Sergia Alves e Eulália Teixeira

Laís e Júlio

Eulália Teixeira e Laís Romero